De repente, bate uma tristeza, uma depressão. Momentos depois, vem uma sensação de euforia, de grande energia. Ou vice-versa: você está alegre, feliz da vida, e, do nada, o astral vai lá para baixo. E tudo isso sem motivo aparente. Se isso acontece com você, fique atenta: pode ser o transtorno bipolar, uma doença que afeta 10% da população e é confundida freqüentemente com outros problemas ligados ao comportamento. Por causa disso, nem sempre é feito um diagnóstico correto, o que pode causar um agravamento no quadro e acabar prejudicando o trabalho, os estudos e a vida pessoal. Sem falar que 15% dos bipolares considerados graves acabam cometendo suicídio, pois não conseguem entender o que está acontecendo, não conseguir conviver com o problema ou - pior - estar sob efeito da medicação errada.
“O pensamento fica acelerado e a pessoa se desinibe, fica expansiva. Pode também ficar agressiva, irritável e prepotente”
A bipolaridade é caracterizada pelo humor completamente imprevisível, com alternância entre estados de mania - grande irritabilidade ou euforia - e depressão. O que a torna diferente da depressão comum, é a mania: uma elevação espontânea do humor, fazendo o indivíduo ter confiança, muita energia e sensação de poder, cometer excessos em compras ou na busca do prazer. "O pensamento fica acelerado e a pessoa se desinibe, fica expansiva. Pode também ficar agressiva, irritável e prepotente. Mas na bipolaridade leve, por exemplo, a pessoa nunca chega a extremos, porém desenvolve quadros de depressão em geral, com sintomas como o excesso de sono".
Essa mistura de estados de espírito acaba confundindo os médicos, que diagnosticam equivocadamente uma série de transtornos, como ansiedade, déficit de atenção, depressão, hiperatividade, problemas de personalidade e até mesmo dependência química. A bipolaridade, conseqüentemente, acaba sendo ignorada. Some-se a isso o fato de que a elevação de humor não costuma ser vista como anormal pelos médicos, tampouco investigada. A confusão não acaba por aí: por trazer reações intensas, o transtorno bipolar às vezes é diagnosticado como uma fobia ou um transtorno obsessivo-compulsivo, já que ocorre em pessoas bastante exigentes. Assim, até descobrir o que têm e receber o diagnóstico e o tratamento adequados, os pacientes bipolares levam, em média, dez anos fazendo consultas.
Como descobrir
A bipolaridade começa a aparecer com mais freqüência entre os 15 e os 30 anos, mas pode se manifestar desde a infância até a meia-idade. Em alguns casos, a doença aparece por fatores genéticos: 50% dos pacientes herdam o problema dos familiares. Nas crianças, o diagnóstico é mais difícil, pois a bipolaridade é manifestada em episódios parecidos com os de hiperatividade, com momentos de ansiedade, agressividade ou intolerância. Mas há características comuns a todos os bipolares, como a oscilação e a instabilidade de humor, além dos episódios de mania. Assim como acontece em outros problemas de ordem comportamental, não existem exames de laboratório ou de imagem para detectar o transtorno bipolar. Para fazer o diagnóstico, é preciso passar por uma entrevista com um psiquiatra, onde o paciente e seus familiares contam sobre as características de humor e o temperamento durante as crises. A partir daí, será definida a terapia mais adequada.
Não existem remédios específicos para o tratamento da bipolaridade. Mas é possível tratar a doença aliando medicação com psicoterapia, além da mudança de hábitos de vida. Praticar exercícios, ter um hobby, alimentar-se corretamente, possuir boas relações afetivas e cultivar a espiritualidade são grandes passos
Medicação e mudança de hábitos
O tratamento da doença é feito, em geral, em duas etapas. A primeira é o tratamento da crise aguda. Na segunda, é feita a prevenção de novas crises, mantendo o paciente estável. Mas a medicação precisa ser muito bem escolhida. Os antidepressivos, por exemplo, não podem ser indicados a quem sofre de bipolaridade, porque desestabilizam o humor, elevando-o além da conta, provocando ansiedade e irritabilidade. Entretanto, se usados em conjunto com estabilizadores de humor, ajudam a controlar os excessos cometidos pelo paciente. Mesmo assim, os estabilizadores só funcionam como uma ferramenta de manutenção, pois os benefícios vêm da psicoterapia e da mudança de hábitos. Estes, sim, surtem um bom efeito sobre o comportamento do paciente e podem levá-lo à estabilidade. Quanto à terapia medicamentosa, é preciso ter paciência: nem sempre se acerta logo na primeira vez, e são necessários alguns ajustes até encontrar um bom resultado. "Esse tratamento, enquanto não se descobre a cura para a bipolaridade, terá de ser feito pelo resto da vida".
Nem só de terapia e medicamentos é feito o sucesso do tratamento. Familiares e amigos também precisam se envolver e apoiar o doente bipolar em sua recuperação. "Eles devem evitar, antes de tudo, qualquer tipo de julgamento. Também precisam ajudar para que o tratamento seja seguido e estimular a continuidade dele por toda a vida". O bipolar deve ser tratado como qualquer outra pessoa, mas precisa de muito apoio, compreensão e imposição de limites. "Isso é fundamental para que ele sinta que pode se recuperar e levar uma vida normal".
Psicóloga
Sandra Delanni Ferreira
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